Das Gangues de Bairros aos Pitboys


Um amigo meu recentemente foi agredido por quatro jovens, quando saía de uma festa de música eletrônica (algo mais brando que uma rave) em Niterói. Ao primeiro esbarrão na saída, o jovem de 20 anos foi agredido por quatro indivíduos, todos na faixa dos 28-30 anos. Dois dos agressores já cumpriram pena por tráfico de drogas, quando caixas e caixas de ecstasy foram apreendidas em suas casas através de uma ação da Polícia Federal. Esse meu amigo não costuma sair muito para festas e jamais havia brigado, sequer ameaçado participar de um conflito violento.
No mesmo dia encontrei o pai do agredido, que se mostrou extremamente preocupado com a segurança do filho. Decidiu não registrar queixa (por orientação do próprio delegado) para evitar possíveis retaliações. Sua preocupação de pai era um reflexo de sua juventude: ele me contou que quando era jovem, as brigas na cidade de Niterói eram geograficamente distribuídas. A turma daquele bairro encarava a turma do outro bairro, às 17h horas, na praia, uma espécie de Faixa de Gaza da juventude. E esses eventos se prolongavam por meses e meses.
Posteriormente, esse meu amigo, que estava com medo de ir a locais públicos, foi convencido a ir a uma boate. Lá, por sorte ou azar, encontrou dois dos quatro agressores. Para a sua surpresa, eles sequer lembravam do ocorrido e o ignoraram por toda a noite. Descobrimos que no dia da briga, por estarem sob o efeito de drogas sintéticas, eles não memorizaram a fisionomia da vítima. Foi apenas o brigar por brigar, como uma catarse corporal para o efeito alucinógeno das drogas. O corpo quer extravasar e isso é transformado em violência.
Não vivemos mais nos tempos de gangues. Há algum tempo não vemos lutadores de Jiu-Jitsu se enfrentando a céu aberto. Somente as torcidas organizadas de futebol guardam essa triste tradição do enfrentamento grupal. Vivemos no tempo da briga pela briga, sem motivo, sem justificativa. Brigar por si só já é um ato estúpido. Mas brigar sem motivo, socar outro ser humano como se estivesse treinando boxe em um saco de pancadas consegue ser ainda mais irracional.
A juventude carece de causas concretas para a luta. Se é que podemos chamar de juventude traficantes e agressores, que não vêm nenhuma perspectiva em seus horizontes. A violência faz parte da natureza, mas não pode e não necessita fazer parte da natureza humana.

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